Conta-se que uma mulher após um dia escuro e tristonho, embora gozasse de todo conforto, não tinha o coração feliz. Embora seu quarto fosse bastante iluminado, parecia-lhe que a escuridão de fora penetrava nele e lhe acrescentava sombras, como a entrar em sua alma e obscurecer suas visão para o belo, seu coração parecia querer mergulhar para a escorregadia vereda dos sofrimentos, voltou-se para a amiga ao lado e perguntou:
“Porque será que Deus trata assim um filho Seu? Porque me permite sentir esta dor aguda, me faz pensar que nada fiz de útil? Porque de repente descubro que não fui a pessoa que devia ser?”.
Diante do silêncio a amiga ela disse sentir frio, adicionou umas achas de carvalho à lareira e continuou:
“Porque não recebo um sinal, uma visita, uma carta, algo que me faça pensar que minha vida não foi de toda vazia, que faça minha alma se alegrar?” – perguntou enquanto lágrimas de tristeza lhe escorriam pela face.
Mas sua resposta ainda era o silêncio, a amiga ao lado talvez não tivesse o dom da consolação, ou não partilhasse de suas duvidas. Ouvia-se apenas o estalar da acha de carvalho que fora ela compelida a colocar na lareira no seu momento de tristeza, até que se ouviu um tom doce e suave, uma pequena e clara nota musical, como o leve trinado de um passarinho.
A amiga foi até a janela, não havia pássaros por perto, nem haveria com o frio lá fora.
Novamente ouvem-se sons, doce, sons melodiosos e cheios de mistérios, como se fossem a soma de vários trinados, devidamente ensaiados e regidos pelo mais competente dos maestros.
“Ouça, vem da acha de carvalho”. Exclamou a amiga até então em silêncio.
Era como se o fogo estivesse deixando livre a música armazenada na acha de carvalho, que ficara nele quando ainda reinava imponente na floresta, nos dias em que tudo lhe ia bem e os mais diversos pássaros faziam ali suas serenatas, permitindo que absorvesse tudo que havia de belo neles enquanto o sol dourava suas tenras folhas.
Mas ele tinha envelhecido desde então, crescera anel após anel, estes haviam lhes envolvido os nós e selado as esquecidas melodias que acabaram por consumir sua sensibilidade, até que as chamas vieram consumir sua insensibilidade e arrancou dali um canto.
Era o sinal que o coração endurecido esperava, e a mulher percebeu que negligenciara em sua fé, que estava retendo dentro de um coração endurecido à melodia do amor e da esperança que sempre norteara sua vida e novas lágrimas caíram, mas desta vez, de felicidade.
Quem sabe algum de nós não está como este velho carvalho? Frio, duro, insensível, e precisando sentir o frio da noite muito forte e buscar calor, fazendo assim que o crepitar de nossa busca nos faça novamente produzir sons maravilhosos e com estas notas produzir alegria àqueles que nos cercam.
Não sejamos juizes demasiadamente severos com nossas dúvidas sobre nós mesmos, nem exageradamente exigentes com o que podíamos ter feito, tenhamos consciência de ter dado o melhor de nós, tenhamos nossa fé sempre firme e deixemos que se liberte a música e os risos para aqueles que amamos.
Baseado em texto de Lettie Cowman, publicado no livro Mananciais no deserto. – Lettie Cowman.
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